Bela Vingança (2020), dirigido por Emerald Fennell, é um thriller de vingança que subverte as expectativas do gênero ao abordar temas de assédio sexual, cultura do estupro e justiça. A trama acompanha Cassie Thomas, interpretada por Carey Mulligan, uma jovem que finge estar embriagada em bares para expor o comportamento predatório de homens que tentam se aproveitar dela. A narrativa, repleta de momentos de tensão e humor ácido, oferece uma perspectiva incisiva e provocativa sobre o modo como a sociedade lida com os crimes sexuais e a cumplicidade silenciosa que os perpetua.
O roteiro de Fennell se destaca por sua complexidade e originalidade, misturando tons de comédia negra, suspense e tragédia. Cassie, marcada pelo trauma da perda de sua amiga Nina, busca justiça por meio de ações calculadas e imprevisíveis. A escolha de uma protagonista que não se encaixa no arquétipo de "heroína convencional" reforça a crítica ao modo como as mulheres são frequentemente reduzidas a estereótipos no cinema. As reviravoltas no enredo surpreendem o público e subvertem as expectativas de um desfecho previsível, culminando em um final impactante e amplamente debatido.
A atuação de Carey Mulligan é um dos pontos altos do filme. Sua performance transmite uma gama de emoções que vão do charme sedutor à frieza vingativa, o que torna sua personagem cativante e perturbadora ao mesmo tempo. Mulligan constrói Cassie com uma dualidade fascinante, oscilando entre a fragilidade emocional e a determinação feroz. A trilha sonora vibrante e o design de produção colorido e estilizado contrastam com o peso temático da narrativa, criando uma estética visual marcante e repleta de simbolismo.
Recebido com aclamação pela crítica, o filme venceu o Oscar de Melhor Roteiro Original e foi indicado em várias outras categorias, incluindo Melhor Filme e Melhor Direção. Sua relevância cultural está atrelada ao debate em torno do movimento #MeToo, ao abordar o silenciamento das vítimas e a impunidade dos agressores. A obra de Fennell não só desafia os limites do gênero de vingança, mas também se estabelece como um comentário poderoso e urgente sobre justiça, empatia e a responsabilidade coletiva diante da violência de gênero.
Final explicado
O final do filme é chocante, trágico e altamente simbólico, deixando o público dividido sobre sua mensagem. No clímax, Cassie decide confrontar Al Monroe, o homem que estuprou sua melhor amiga Nina anos antes. Ela se infiltra na festa de despedida de solteiro dele, fingindo ser uma stripper, e o leva para um quarto isolado, onde planeja gravar uma confissão. Contudo, as coisas saem de controle. Al consegue se libertar e, em uma cena de intensa violência, sufoca Cassie até a morte usando um travesseiro. Essa sequência é prolongada e desconfortável, destacando o realismo da cena e o terror da situação.
A morte de Cassie pode inicialmente parecer uma derrota, mas o roteiro reserva uma reviravolta. Antes de ir para o confronto, Cassie já havia planejado meticulosamente um "plano B". Ela deixou evidências de seu paradeiro e programou o envio de mensagens automáticas para sua amiga e para o advogado que anteriormente havia mostrado remorso por sua participação no caso de Nina. Essas mensagens contêm provas que implicam Al e seus amigos no crime, além de instruções para as autoridades. No dia do casamento de Al, a polícia chega e o prende, interrompendo a cerimônia e surpreendendo todos os presentes.
O simbolismo por trás desse final é forte. Cassie, mesmo morta, consegue garantir uma forma de justiça, algo que Nina nunca teve. Sua morte não foi em vão, pois ela expôs o sistema de privilégios que protege homens como Al. Além disso, o fato de a justiça só chegar após sua morte reforça a crítica do filme à cultura de silenciamento e à cumplicidade de quem testemunha e não age. O "sacrifício" de Cassie espelha o sofrimento de tantas mulheres que não veem justiça em vida.
O final ambiguo e controverso levanta discussões sobre o custo da vingança e a eficácia da justiça póstuma. Alguns espectadores interpretam a morte de Cassie como um comentário sombrio sobre a impossibilidade de vencer o sistema, enquanto outros enxergam sua estratégia final como um ato de vitória póstuma. Ao subverter as expectativas de um final heroico e catártico, Promising Young Woman força o público a encarar o desconforto da realidade: a justiça raramente é limpa, imediata, ou sem perdas.
Onde assistir
O filme está disponível nos catálogos da: YouTube, Prime Vídeo, Google Play Filmes.
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